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Pedro Viseu

Há dias, numa das noites movimentadas da vila, tive necessidade de me deslocar ao café mais bem localizado de Penacova, com uma vista deslumbrante sobre o vale do Mondego, unanimemente considerado como o cartão de visita de quem nos descobre e visita, e fiquei chocado com o estado lastimoso em que se encontra aquele estabelecimento.

Entre muitas outras coisas, constatei que as paredes carecem de uma pintura que lhes devolva o brilho que tinham quando o atual proprietário, jovem promissor da nossa terra, experiente na área, abraçou o projeto com aquela vontade de quem começa algo desafiante. A esplanada, o ex-libris daquele local, clama por uma cobertura que substitua a que lá se encontra, gasta e escura que está pelo tempo e pelo efeito impiedoso das manhãs frias que desafiam e castigam, até os materiais mais resistentes. Os cabos que ligam a televisão desportivamente panorâmica, atabalhoadamente colados à parede e ao teto com pedaços de uma fita adesiva cinzenta, que contrasta com o branco sujo da parede que os sustém, denotam uma falta de sensibilidade por parte de quem gere aquele espaço. O chão gasto, aqui e ali salpicado por “ilhas” da cor do pavimento que pretendeu cobrir, necessita urgentemente de uma nova intervenção. Como se não bastasse, a zona do estabelecimento que mais me surpreendeu, pela negativa, foi a dos sanitários. Saturados de imundície, com as portas e os fechos danificados, inexplicavelmente desprezados e impróprios para serem utilizados por alguém que pretende deles sair mais limpo e aliviado. Ainda pensei que tal situação se devesse ao facto de não haver tempo para uma limpeza mais cuidada, por se tratar de uma noite com uma maior afluência de clientes, mas pude verificar que não seria o caso, pois o grau de desleixo em que se encontrava era tal, que não poderia ter sido causado (apenas) naquela noite.

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Escrevo este texto com a tristeza de quem gosta da sua terra, das suas gentes e do esforço com que se dedicam a torná-la prazenteira, mas não consigo perceber como é que alguém, que aceita explorar um espaço dedicado ao público, que tanto significado tem para quem o frequenta e que pela primeira vez o visita, não é sensível a esse facto e não se preocupa em fazer dele um sítio acolhedor, convidativo a uma agradável visita e a uma presença mais demorada.

Já vi aquele estabelecimento ser ocupado por vários empresários. Todos eles iniciaram a sua atividade com uma enorme vontade de mudar a forma de gerir daqueles que foram substituir, e (quase) todos eles, caíram na mesma tentação de se preocuparem somente com a “máquina de fazer dinheiro” que aquele estabelecimento é, sem cuidar de dar àqueles que o frequentam a contrapartida de usufruírem de um espaço único e emblemático da nossa terra,  com uma vista extraordinária sobre o vale do Mondego.

Obviamente que a culpa não é toda da entidade que explora o “negócio”. A experiência diz-nos que (quase) todos os empresários, de qualquer ramo de atividade, vão perdendo o entusiasmo à medida que o tempo passa e a inércia se instala. Alguns acomodam-se em demasia e não cuidam do bem estar dos seus clientes, outros conseguem surpreender com as novidades com que vão presenteando os seus clientes. Outros há que conseguem manter a sua atividade tal como a iniciaram, com a mesma vontade de agradar e com o mesmo profissionalismo que os fez começar. Quando isso não acontece, e quando se constata que a qualidade do serviço prestado decresce à medida que o tempo passa, a ponto de prejudicar a imagem que se pretende transmitir, assim frustrando as exigentes e legitimas expectativas de quem aprecia um serviço de qualidade, a concessionária do espaço deve atuar em benefício do bem comum, por forma a manter os padrões de qualidade exigíveis a um estabelecimento comercial que tem como objetivo, não só o lucro de quem o explora, mas também o de manter a imagem da vocação turística que tanto apregoamos e que, necessariamente, pretendemos manter.

A quem explora aquele estabelecimento, e a quem permite que ele seja explorado, não basta, por isso, que ele se encontre instalado num local privilegiado. É necessário cuidar dele para que mantenha a fama e não se transforme num local desagradável, alvo de críticas que nada beneficiam quem dele faz o seu modo de vida.

Pedro Viseu

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