David Gonçalves de Almeida
Na tarde do dia 15 de Fevereiro de 1941 a Península Ibérica foi atingida por uma grande tempestade, sob a forma de ciclone, que afectou em especial uma grande área do nosso país provocando mortes e avultados danos materiais. Esta situação meteorológica extrema resultou da influência de uma depressão que evoluiu de forma muito rápida, gerando, de acordo com os meteorologistas, uma “ciclogénese explosiva”.
Muitos milhares de árvores foram arrancadas pela força do vento. Devido à queda das mesmas a rede de estradas, bem como a rede eléctrica, foram extremamente afectadas. O número de vítimas mortais ultrapassou a centena e os feridos também foram muitos. A maior parte das mortes, em especial na região de Lisboa, terá sido motivada por afogamento devido a inundações que ocorreram nas zonas ribeirinhas. Também, na sequência de diversos acidentes, se registaram inúmeros cortes nos caminhos-de-ferro. Em Coimbra (Lamarosa) deu-se um choque de comboios de que resultaram dois mortos. No Minho, a queda de uma árvore provocou três vítimas mortais.
O ciclone de 1941 também se fez sentir com grande intensidade no nosso concelho. Mais do que os muitos prejuízos e danos materiais, Penacova acabou por chorar a morte de um bombeiro, provocada por um acidente de viação, quando no dia 4 de Março de 1941 juntamente com outros soldados da paz se encaminhava para o alto concelho no sentido de acudir às graves situações que a tempestade tinha deixado para trás e que exigiram difíceis intervenções que se prolongaram por algumas semanas: estradas sem conta tornadas intransitáveis, queda de árvores, centenas de casas destelhadas, redes eléctrica e telefónica severamente atingidas, aldeias isoladas …
Quando agora nos deslocamos do Porto da Raiva em direcção ao Coiço, encontramos à nossa direita um memorial que nos recorda esse fatídico acidente. Uma lápide, ali colocada em 1968 apresenta a seguinte inscrição:
“À MEMÓRIA DE FRANKLIM FEITOR DE NORONHA / SOLDADO DA PAZ FALECIDO A 04 – 03 – 1941 / NO CUMPRIMENTO DO DEVER / BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE PENACOVA / 1968”
Escreveu o Notícias de Penacova de 8 de Março de 1941:
“Os efeitos desastrados do ciclone que há pouco tempo nos flagelou ainda se repercutem nos tristes acontecimentos que se vão sentindo! Foi assim que aquele prestimoso Bombeiro Voluntário da Corporação desta vila, indo para o alto concelho com outros companheiros, foi cuspido no embate de uma caminheta de carga que, vindo fora de mão, colheu o pronto-socorro apesar de o motorista deste, rapaz cauteloso e inteligente, se ter desviado quanto pôde para a valeta!”
Com esse reflexo conseguiu evitar maior número de vítimas: “Graças a Deus os companheiros escaparam, sofrendo somente o grande desgosto da morte do seu colega e amigo”, mas “o desditoso Franklim teve ali o seu fim”- concluía o jornal.
O “infeliz bombeiro e legionário” deixou viúva e três filhos menores, a mais velha de 13 anos. Para apoiar esta família naquela hora difícil foi aberta uma subscrição junto de pessoas e instituições.
“No préstito fúnebre incorporaram-se os seus colegas Bombeiros, a Legião, a Banda de Música, todas as autoridades e grande número de pessoas”, prova da “estima de que gozava.”