Saudade Lpoes
Sobre as Jornadas Mundiais da Juventude, quero manter viva a memória para o resto da minha vida e, para isso, quero tentar não esquecer a maravilhosa história da vida de um milhão e meio de jovens, que estiveram no Parque Tejo em Lisboa e nos dias das Dioceses em Penacova, bem como todos outros jovens e menos jovens que viveram as Jornadas noutras dimensões.
Nestes dias, em que a capital se cobriu com um mar de gente, vi tudo aquilo que não esperava ver num mundo desanimado e muitas vezes sem cor. Vi corações repletos de paz, vi organização e perfeição, vi respeito e dignidade, vi arte e sabedoria, vi lágrimas de emoção e silêncios, vi e senti Deus estampado de felicidade no rosto de cada peregrino, vi cordões policiais de mãos entrelaçadas aos voluntários. Isto jamais poderá ser apagado da mente daqueles que viveram as JMJ. Em alguns momentos senti o céu a rasgar e ouvir a voz de Deus “estes são os jovens desta geração, os meus filhos muito Amados, estai atentos às mensagens do meu sucessor Papa Francisco! O presente e o futuro pertence-vos”.
Ainda muito anterior à divulgação nas paróquias, surgiu uma notícia no Penacova Atual sobre as JMJ, onde era mencionada a importância das famílias de acolhimento. Sem qualquer hesitação, acedi ao site, queria fazer parte e viver este evento, assim como envolver a minha família nesta experiência.
Foram alguns meses de espera até que chegou o dia em que me dirigi ao Parque Verde de Penacova, para conhecer e transportar a minha dezena de jovens. Uma surpresa na chegada, com arrepios de emoção pelo cenário que encontrei, uma aventura contagiante de alegria por todas as famílias que esperavam ansiosamente por conhecer os jovens que lhes foram confiados, assistindo aos diversos voluntários de listas na mão chamando por 113 jovens e pelas respetivas famílias de Acolhimento. Foram momentos únicos, ali naquele parque estavam a acontecer sinais de esperança, tudo estava preparado ao pormenor e com toda a eficácia.
Estes jovens que deixaram as suas famílias por terras francesas, eram estrangeiros, e vinham para Portugal buscar novas vivências, novos horizontes, reforçarem sua fé para melhor viverem a sua vida. Ali naquele local era a sua primeira experiência, a acomodação nas casas de famílias Penacovenses. Famílias de Lorvão, Figueira, Sazes e até Carvalho, com uma população reduzida e envelhecida, estavam ali em grande número para os acolher. Famílias da freguesia de Penacova, a sede do Concelho, eramos apenas três, uma minoria – senti-me triste.
Nos dias seguintes fui tendo conhecimento e vivendo algumas das atividades programadas para estes 113 jovens, que levaram as nossas gentes e a nossa cultura, a nossa gastronomia no coração para outros cantos do mundo. Sei que jamais vão esquecer estes dias que passaram por terras de Santa Maria em Penacova e arredores. Eram jovens com expressões alegres e simpáticos, muito focados na beleza de Deus, mostraram-nos pelos seus comportamentos que os ensinamentos das suas famílias são enraizadas em princípios e valores fundamentais para a vida.
Durante estes cinco dias observei a generosidade de muita gente, empresas, instituições, jovens, pessoas de todas as idades, no acolhimento, nos transportes, na confeção dos alimentos, na dádiva dos mesmos, na parte cultural e musical, na logística das encenações, na organização dos espaços, e tantas outras situações. Recordo também uma noite única, de amor partilhado e dançado, no Parque Municipal ao som dos nossos instrumentos, das nossas realidades e das nossas raízes, tantos artistas que embelezaram aquele espaço, completo de cores humanas, completo de união e partilha.
Sei que para conhecermos as realidades temos de nos envolver, de viver e olhar à nossa volta e questionarmos as circunstâncias, tentei estar atenta e viver aquele tempo que foram as minhas Jornadas, a minha peregrinação. Convivi com tantas famílias, agentes de várias pastorais, escuteiros, jovens das paróquias/freguesias de Lorvão, Figueira, Sazes, e Carvalho envolvidas em todas as atividades tais como, a oração, a diversão, a ajuda nos transportes, em todas as tarefas necessárias até à simples lavagem de pratos, todos se encaixavam como um puzzle, uma comunidade de amor entre todos.
No entanto, questiono-me por onde estiveram cristãos praticantes e não praticantes da paroquia/freguesia de Penacova? Como promoveram Penacova, os críticos das redes sociais e de café que reclamam festas? Onde está o espírito de comunhão, união e entre ajuda destas aldeias e Vila? Faltou divulgação, faltou empenho, faltou dinamismo. Penacova, em todas as dimensões, sejam religiosas, políticas ou sociais, sempre na primeira linha da indiferença e da desunião – sinto-me triste e envergonhada.
Estes jovens encheram de alegria as ruas das nossas aldeias e vilas, deram vida às comunidades adormecidas. Acredito que, um dia irão voltar e com as suas famílias, eles transportaram as nossas gentes na alma e no coração. Saliento que a organização foi excelentemente bem concretizada pela liderança, trabalho e esforço da jovem Maria João Santos, oriunda de Figueira de Lorvão, que tomou a seu cargo este evento, e com sabedoria envolveu muitos outros jovens que souberam captar a mensagem da partilha e se deixaram envolver nestas que foram as JMJ.
De louvar o grupo de catequese de Penacova e Gondelim, que se fizeram representar, e muito bem, por alguns jovens e suas famílias em alguns momentos, nomeadamente na oração do terço, no local mítico da serra de Gavinhos, no Convívio em Carvalho, onde desfrutaram daquele maravilhoso almoço, e em Lisboa, onde vivenciaram algumas das mensagens do Papa Francisco.
São estes os jovens da minha paróquia e suas famílias e todos os outros da Unidade Pastoral de Santa Maria que viveram intensamente as JMJ e que têm a “responsabilidade” de tentar mudar mentalidades, unir corações. A nossa Igreja é de “Todos, Todos, Todos”, como nos dizia o Papa Francisco. Suplico a todos vós que não deixem fugir as mensagens que vos foram confiadas, atrevam-se a interpelar todos os agentes pastorais, padres e leigos, para que as mudanças surjam o mais rápido possível, para podermos voltar a ter as Igrejas completas de gentes vivas e alegres. Temos de ser acolhedores, não termos preconceitos sobre nada, nem sobre ninguém, devemos ser Igreja ”sem portas”, devemos ser uma comunidade de amor entre todos, os que entram e os que saem, temos de ser discretos e “quando olhamos o outro de cima para baixo, que seja para o levantar” – uma frase chave dita pelo homem que quer mudança.
“Não tenham medo” outra frase que vos foi dita, vocês têm urgentemente de incomodar, especialmente a todos os que estão acomodados. Temos hábitos rotineiros, colados ao chão da Igreja, com medo que nos ocupem o lugar. Vocês são os donos da modernidade e da arte, de nós apenas precisam da experiência. Retenham as imagens, anotem mensagens, registem memórias e sigam em frente, façam das nossas Igrejas locais de culto, sim! Mas com rejuvenescimento e alegria. E na parte exterior das paredes do Templo, ou seja, no mundo, vivam e ensinem o significado da partilha e do amor pelos outros, sem terem “medo de sujar as mãos”. Esta é de facto, a minha opinião de vivência de catolicismo.