A Vila de Lorvão, uma das três que fazem parte concelho de Penacova, já nos habituou à excelência das suas gentes e das suas criações. Por tudo isso, nunca é demais falarmos do seu imponente mosteiro, da sua secular filarmónica ou do seu esmerado grupo etnográfico e, por fim, da sua deliciosa e irresístivel doçaria conventual. A esse conjunto de incontornáveis “instituições”, junta-se, agora, um novo projeto musical protagonizado por jovens criativos e ambiciosos, desde sempre ligados à música, a que deram o nome de “Orelhuda”, e que «surgiu do inesperado e inusitado improviso de três amigos…Dani José, Tó Luís e Eduardo Pisco», tendo sido por isso que com eles fomos conversar.
O Dani José recorda que «aquela sexta-feira ao final da tarde, no início do verão de 2021, ainda na fase da pandemia, era o dia em que estava marcado um encontro no antigo campo de futebol do hospital, para que todos voltassem a encontrar os amigos, para tentarem recuperar a simplicidade e as coisas boas da vida, muitas das vezes com direito a jantar e boa música durante a noite no bar da UDL». Nesse aspeto, recorda, «a UDL foi responsável pelo reencontro assertivo das suas gentes da terra e os de fora da terra. Muitos foram os que regressaram às origens, como foi o caso do Tó Luís, que há 15 anos tinha deixado o Lorvão para viver em Lisboa».
E foi assim de uma forma muito espontânea, e após algumas “peladinhas” com os colegas de juventude, que o Dani lançou o repto a Tó Luís, para trazerem as guitarras e durante a noite no bar, tocarem umas músicas à volta da mesa. Para o Tó Luís, o convite não fazia nada sentido…ninguém de juízo, ia trazer guitarras elétricas para tocar “não sei bem o quê” e beber umas cervejas. Mas o Dani insistiu, pelo deslumbre de uma noite diferente entre amigos, tendo um argumento de peso, quando em campo entra Eduardo Pisco, um jovem baterista com percurso já firmado – “Nós trazemos as guitarras e o Pisco traz a bateria”, disse. Para o Tó Luís, a “coisa” embora fosse estranha, até já fazia sentido com uma bateria. «Nessa noite tudo foi inesperado…principalmente, a recetividade e o entusiasmo de quem à nossa volta se juntou», contou.
Surgiu logo o convite para prepararem uns covers, para no domingo da semana seguinte, tocarem ao final da tarde. Como acharam divertido e queriam fazer a “coisa como deve ser”, convidaram a Andreia Gaudêncio para se juntar a eles na voz. «Tínhamos agora sim, ensaiado algumas músicas e, nesse domingo tocámos e voltámos a tocar, o que ensaiámos e o que não ensaiámos». Do improviso daqueles instantes, Dani José disse…«obrigado pessoal…somos os Orelhuda!».
Nenhum de deles imaginava aquele entusiasmo, nem mesmo a insistência para continuarem como uma banda a sério. Embora tudo parecesse um pouco brincadeira, aceitaram o desafio e, a 31 de outubro de 2021, deram o seu primeiro concerto “a sério” num antigo anfiteatro, com o apoio da União Desportiva Lorvanense. Recorda que «montaram as coisas sem estar à espera de grande adesão» e depois de tocarem as músicas que tinham preparado «foram surpreendidos com o acolhimento que receberam das cerca de 80 pessoas que estavam a assistir».
A partir daquele momento perceberam que o projeto «tinha pernas para andar», com alguns originais que começavam já ser colocados no papel.
Da composição original do grupo, estão o Eduardo Pisco, com formação no Conservatório de Música de Coimbra e já com um longo percurso musical, o Dani José, com formação musical e ligação a alguns projetos culturais, a Andreia Gaudêncio que estudou canto e neste momento retomou a formação na Escola de Artes de Penacova, o Tó Luís que estudou guitarra durante quatro anos e, o Tomás Caçoete, o elemento mais novo e recente na banda, com formação musical e que toca baixo. Por assim dizer, para nenhum deles da música é um elemento estranho, daí que a ideia de se reunirem para tocar, surgisse a qualquer momento. Da formação inicial já não fazem parte o Tiago Santos e o James Liverpool, que tocavam baixo, mas que por razões pessoais não tiveram disponibilidade para continuar.
Já tocam juntos há cerca de dois anos e identificam-se como uma banda rock alternativo. Durante esse tempo têm-se dedicado a tocar covers das músicas com que mais se identificam e através das quais pretendem dar a conhecer o seu novo projeto, mas não escondem a vontade de criar originais que sirvam de «trampolim para se afirmarem como uma banda de referência no panorama musical», salientam.
O Salão Brasil, aquela sala que todos consideram «um sonho a realizar»
Não pararam de tocar desde então. Entre os ensaios, cada vez mais regulares e exigentes, já tocaram no Auditório Municipal de Penacova, na Confraria da Bifana do Jó, no Festival de Rock “Rockvão”, nas últimas edições da Feira de Tradições e, nos Açores, momento que recordam com especial carinho. «Foi um concerto que aconteceu durante as festas de Porto Judeu, na Ilha Terceira, no dia 17 de julho, data em que se celebra também o feriado municipal de Penacova». Naquele dia, recorda a Andreia, «nenhum de nós estava à espera daquele mar de gente…ficámos muito sensibilizados com a receção do público».
Com quatro originais já compostos (“ansiedade”, “meias palavras”, “vem comigo ouvir o som” e “in my dreams”), e outros tantos no papel, projetam um álbum para o início da próxima primavera de 2024, e não escondem a vontade de atuar nas salas que consideram fundamentais para apresentarem o seu projeto, «assim sejam convidados», dizem entre risos e alguma ansiedade, apontando o Salão Brasil como aquela sala que todos consideram «um sonho a realizar».
Reconhecem que “a disponibilidade de todos é o principal obstáculo para se dedicarem com mais afinco à criação de temas originais”, mas estão com vontade de continuar a trabalhar no sentido de “poderem lançar um trabalho com pelo menos 10 originais”.
No próximo dia 25 de agosto vão atuar na Praia Fluvial do Reconquinho a convite do município de Penacova e aí, para além das músicas que habitualmente tocam, vão apresentar alguns dos seus originais, esperando uma boa recetividade do público.
Terminam com um especial agradecimento à União Desportiva Lorvanense, à Filarmónica Boa Vontade Lorvanense e ao Pedro Viseu, do Penacova Actual, pelo apoio e pela disponibilidade com que, desde a primeira hora, apoiaram este projeto.