Luís Pais Amante
Passeei, levitando
Cabeça erguida, passo vazio
Pelos contornos antigos da Costa do Frio
Os seus telhados recortados
As Escadinhas belas da minha memória
Vi a Casa onde nasceram os meus irmãos
E onde eu vivi e fui muito feliz
A dar-lhes as mãos
E a receber sorrisos em coração
Subi pelo sítio da Nogueira
Que se finou
E onde nós putos
Demos cabo dos glúteos
E da roupa velha cerzida
Rasgada como a ferida
Do verde claro na cor da noz fruta
Por fazer que cedo queríamos comer
Parei
Para me recordar das caras
Que viviam por detrás das janelas
E do modo como sorriam pra elas
!… até senti arrepio no frio d’outrora …!
Que por cá continua
Por não se querer ir embora
Há transformações positivas
Até casas muito bonitas
Floridas, bem tratadas
De Famílias resilientes
Heróis ainda hoje residentes
E outras nem tanto assim
Uma até chamou por mim
A pedir ajuda pra não desistir de se manter
Como símbolo artesão
Era, há muitos anos, a Forja ou “Casa do Ferreiro”
Que tinha trabalho o ano inteiro
E intervenção nas peças do teatro da vida
De todos nós
Que já passou como corrente de ar
Vi umas garagens vazias de história
Com placa de misericórdia a descair
E uma Nogueira nova, frondosa
Que cresceu na “ratoeira” da merda
Em Estrumeira
Que descia a céu aberto, na ladeira
Com cheiro nauseabundo
Lá posto, segundo a segundo
Sem comiseração
Ou, sequer, actuação de ninguém
Respirei
E vejam só que no meio do passeio
As minhas narinas, que são finas
Não absorveram cheiro mau nenhum
Certo é que, da nossa Costa do Frio
Também se via -e vê bem- o Rio
E o Mont’Alto
Sem IP3 a descolorir
Também se tinha vista alegre
E vida traquina que se soergue
Na nossa ideia de meninos irrequietos
… Mas a Rua sempre foi entendida
Como o lado negativo
Da nossa fotografia da Vila
Em promoção
Mas não foi, nem é
… se calhar nem nunca será, não!
Luís Pais Amante
Casa Azul
No fim de um passeio com a Minha Irmã, Rosinha (recordando a nossa meninice) e com reencontro da Cristina Costa, há muito residente nos EUA.
Recordar é viver, memórias lindas retratos de uma vida simples e feliz. Bem haja senhor Luís Amante um abraço.
Lindo Poema; cheio de memórias.
Então em Penacova há a Rua da Costa do Sol e a Rua da Costa do Frio?