Obras em leito e margens podem aumentar assoreamento do rio, receia associação Milvoz. Agência Portuguesa do Ambiente diz que vai ajudar a gerir o caudal do rio e que respeita “as melhores práticas”.
No Rio Mondego, a montante da cidade de Coimbra, têm-se acumulado bancos de sedimentos e a vegetação que neles cresce. A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) começou a 24 de agosto, uma intervenção no leito e margens do rio para mitigar os impactos destes elementos, numa extensão de 3,4 quilómetros. Mas o primeiro impacto das obras que têm um custo de 355 mil euros e se vão prolongar por quatro meses está a deixar os ambientalistas preocupados.
O presidente da associação Milvoz, Manuel Malva, receia que, ao longo dos 3,4 quilómetros entre a Ponte da Portela e o Açude dos Palheiros, sejam cortados os bosques ribeirinhos e galeria ripícola, tal como já aconteceu com os mais de 100 metros de intervenção. Mesmo que o objectivo seja melhorar a fluidez do Mondego, o também biólogo refere que a intervenção “ignora toda a componente ecológica” dos bosques ripícolas que se foram estabelecendo no rio.
A obra segue uma “perspectiva puramente hidráulica”, seguindo critérios de engenharia para “garantir o máximo fluxo das águas sem que haja qualquer tipo de obstáculo” em episódios de cheia, aponta Manuel Malva. “Consideramos a abordagem excessiva”, diz. Nota que a limpeza daquela vegetação inclui “qualquer espécie”, como canas, silvados e acácias, mas também espécies nativas como o salgueiro. Manuel Malva afirma ainda que a Milvoz procurou informação junto da Administração de Região Hidrográfica do Centro, em Coimbra, onde um responsável terá explicado as “linhas gerais da intervenção”.
O objectivo da APA, responde o gabinete de imprensa da agência ao PÚBLICO, por email, é “normalizar o escoamento do rio e diminuir a velocidade crítica no leito do rio”, proteger as margens e “reduzir o risco de inundação”. Ao fazê-lo, são removidas plantas invasoras e é reposta a galeria ripícola autóctone, numa operação que “inclui a plantação nas margens de estacaria viva de espécies autóctones da região”, refere a agência.
Para compreender as reservas da Milvoz, temos de recuar aos anos 1980, quando foi construída a obra de aproveitamento hidráulico do Mondego, que ergueu as barragens da Aguieira, Raiva e Fronhas a montante de Coimbra e alterou o curso do rio […]
Camilo Soldado – Jornal Público de 30 de Agosto de 2023