Marília Alves
“Há morte aqui dentro.
E há promessas de mais mortes.
Há vida aqui fora.”
(palavras do poeta palestino Sohir Hamad)
Quando os estados não controlam a religião, o poder religioso passa a controlar os estados na sua imensa perversidade, no caso, temos o estado de Israel versus Hamas, sendo este último uma organização terrorista, que começou por ser um partido politico e criou uma milícia armada, que governa Gaza desde 2007. O estatuto do Hamas foi escrito em agosto de 1988 e de acordo com o Alcorão. A organização jurou aniquilar Israel e tem sido responsável por muitos ataques bombistas suicidas e outros ataques mortais contra civis e soldados judeus. Ao longo dos anos, recebeu o apoio de países árabes, como o Qatar e a Turquia. Recentemente, aproximou-se do poderoso Irão e dos seus aliados. Se não há dúvidas quanto à categorização do Hamas, vamos tendo cada vez mais evidências, através da desproporcionalidade da resposta, dos meios empregues e das intenções declaradas e implícitas, de que o governo de Israel também se enquadra na definição que a União Europeia apresenta para atos de “terrorismo”.
Aliás, recuando no tempo, o estado judeu foi constituído da forma que hoje se considera terrorista: à bomba e ao tiro. A Palestina, à época, era uma colónia britânica, 90% ocupada por árabes e por uma minoria judaica, que, em 1948, tomou o poder da sobredita forma, e declarou o estado de Israel. Foi reconhecido internacionalmente na ONU e tiveram o apoio dos EUA, os quais, porém, nunca impuseram o reconhecimento da Palestina como estado, facto que levou à radicalização que impede a solução do conflito. Trata-se de um território que os judeus acreditam ser seu direito de nascimento ancestral. A terra prometida na Bíblia Hebraica para descrever a terra dada por Deus aos israelitas. Mas os árabes palestinos que aí viviam também reivindicaram e reivindicam, até hoje, a terra que, além das menções da região no Alcorão, foi onde, segundo a tradição muçulmana, ocorreu a ascensão de Maomé aos céus.
Em 1967, na guerra dos seis dias, Israel foi atacado por vários países árabes que o rodeiam. Nesses seis dias, ganhou a guerra e o estado de Israel ficou mais extenso com anexação de territórios sírios e egípcios, como a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e os Montes Golã. Em 1973, no feriado judaico do “Yam Kipor”, uma coligação de estados árabes, liderada pelo Egito e Síria, voltaram a atacar Israel para o destruir. Perderam de novo, mas Israel permaneceu um estado rodeado de países árabes que, obviamente, não gostam da forma como os seus pares são tratados na Palestina pelos judeus. Estes valeram-se da sua superioridade para remeter os palestinianos, nas zonas ocupadas, a um estado colonial de apartheid. Prenderam mais de dois milhões de pessoas na maior prisão do mundo durante dezassete anos, tal-qualmente fizeram os nazis no Gueto de Varsóvia. Os judeus no Gueto resolveram lutar, mesmo estando conscientes de que a morte era certa. Agora os palestinos, na Faixa de Gaza, também resolveram lutar, mas vão ser aniquilados, da mesma forma que aconteceu no Gueto. Criaram um desespero tão absoluto, uma vida tão indigna, que milhares de pessoas preferem morrer a lutar do que serem dizimados de joelhos. Os judeus são um povo que sofreu os horrores da Inquisição e do Holocausto, mas pelo que se vê agora não são empáticos, porque se o fossem não faziam aos outros o que barbaramente lhes fizeram a eles.
No passado dia 7 de outubro, uma data histórica pois coincide com o “aniversário” do Yon Kippur de há 50 anos, o Hamas atacou Israel e entrou num estado independente matando, de imediato, centenas de pessoas que estavam numa festa e fizeram outras centenas de reféns. A Palestina é um território e não um estado independente e tem o direito de lutar por isso, como o faz ao longo dos anos. Mas os Israelitas são um estado e ao serem invadidos desta forma é um ato terrorista de enorme gravidade. Israel é ainda mais pequeno que Portugal e com o número de população perto do nosso, mas soube vencer as fragilidades do seu território, uma terra de desertos e oliveiras, banhada pelas águas do rio Jordão. Tornou-se produtivo graças às características do seu povo, mas também com ajuda da irmandade judia dispersa pelo mundo. Conseguiram desenvolver uma indústria bélica poderosa, que lhes permite retaliar com violência e provocará muitas vítimas, para responder aos crimes cometidos contra israelitas.
Está aberto o caminho para que esta guerra no Médio Oriente se torne mais sangrenta, bem como tenha influência na Europa e na guerra da Ucrânia, porque os países árabes que apoiam o Hamas são aliados ou apoiantes da Rússia, a começar pelo terrível Irão, e isso é bom para a Federação. Por outro lado, apesar de todos os erros e defeitos, o Ocidente, com os EUA à cabeça, irá sempre apoiar Israel, o único país na zona que tem armas nucleares. O clima perfeito para a escalada da guerra no mundo.
Marília Alves